- Françoise Dolto, importante psicanalista do século XX, considerava a enurese uma linguagem. Antigamente, a enurese significava sobreviver a experiências sádicas dos pais que obrigavam a criança dormir sem cobertor e no chão para sentir frio ao urinar ou “garroteavam” o pênis dos meninos com um nó de cordão de sapato ou deixavam a criança usar sempre o mesmo pijama e mesmo lençol para que o mau cheiro a incomodesse. A psicologia moderna incentiva, como exemplo, que a mãe envolva o pai na situação para não deixar que sua mulher seja uma criada do seu filho. Outra postura mais adequada é pedir para colocar o lençol e o pijama na máquina de lavar, simplesmente.
- Na segunda guerra mundial, crianças filhas de prisioneiros começaram a fazer xixi na cama e melhoravam com o tratamento em 5 a 6 semanas. A causa ou resultado, provinha da humilhação sofrida por acreditar ter um pai covarde que se deixou prender ao invés de morrer. É como se ela dissesse: “Você não é mais digno de ser meu pai, portanto não posso ter sexo e sim um faz xixi”. O xixi na cama pode significar um desejo de continuar criança. O aparelho genital permanece um aparelho urinário somente. Ou o eu-mamãe se fixa no cheiro do xixi e graças a ele não chegam no nível do desejo sexual e os órgão genitais permanecem no estado de necessidade apenas.
- Os últimos sonhos da criança que pára de urinar na cama é de extinção de incêndio. É o apagar do incêndio do desejo, para não se tornar sádico ou masoquista anal. É por isso que algumas delas permanecem emissivas uretrais, ignorando que é destinada à reprodução (a genitália). É também a nobreza da ereção, porque o xixi noturno sempre se faz em semi- ereção. Certos homens vivem a sexualidade como uma necessidade de descarga e permanecem irresponsáveis da mesma maneira que somos irresponsáveis por nossas necessidades.
- A enurese se deve em grande parte ao fato da criança ter sido educada cedo demais em relação ao desenvolvimento neurofisiológico. É necessário o desenvolvimento da “queue-de-cheval” (caulda equina), que ocorre aos 27-28 meses. No menino há confusão de sensações na bacia no que se refere à uretra, que está a serviço da micção mas também das ereções. Essa confusão faz que, cada vez que há uma ereção, ele urine. Nas meninas a micção não está ligada à genitália. É por isso que nas meninas, encontramos retenções com cistites. Há uma complicação específica das meninas. É uma excitação da uretra, uma espécie de gaguejo doloroso do canal urinário, de tetanização do canal como um “sim e não” constante , que provoca sensações dolorosas.
- As meninas se regulam conforme o conteúdo da bexiga. A criança quer imitar a mãe quando esta vai ao banheiro e isso deve ser sempre incentivado. Quando a mãe ou pai a colocam na creche, as cuidadoras desregulam esse ritmo e fazem que a criança vá de hora em hora para não se sujarem. Por isso, o infante guarda xixi para ter o que dar na próxima hora. Ou seja, não urina completamente. O importante é não exigir nada e lhes dizer: “Eis o que os adultos fazem no banheiro e quando você puder fazer sozinho, também irá”.
- Elas usarão fraldas até o momento em que, graças ao calor do verão, vão querer tirá-las, sem dramas e não se deve tocar mais no assunto. Os xixi na cama dos meninos duram mais tempo que o das meninas, por causa da história da ereção. A privação do gênio masculino, que é o fato de o pênis baixar quando há ereção, representa ao mesmo tempo uma castração e uma promoção, pois é o desenvolvimento do veromontanum. A continência esfincteriana precoce, imposta ou solicitada numa idade em que não terminou o desenvolvimento do sistema nervoso piramidal só pode ser obtido por dependência à mãe.
- Quando essa educação precoce não é seguida de um período de revolta e de oposição da criança às vontades da educadora que oprimi a satisfação dessas necessidades naturais, forma-se uma fonte de neurose obsessiva, ou seja, de recalque posterior das pulsões do desejo, já tornado como culpado antes de reconhecido distinto das necessidades excrementícias, que alienam o sujeito do advento de sua autonomia de conduta e de pensamento. Os pais que querem “adestrar” seus filhos precocemente retiram a liberdade de seu corpo no domínio experiente da satisfação de suas necessidades, quando sua evolução física lhe der os meios para isso.